O suor pinga, e a estudante Marcelly Cristóvão Leão, de 19 anos, não
desgruda da toalhinha ao entrar no 774 (Madureira-Jardim América), em
Madureira. O mesmo fazem passageiros e até motoristas de outras linhas. A
situação seria diferente se a prefeitura tivesse cumprido a promessa de
climatizar 100% dos ônibus até o fim de 2016, firmada em acordo
judicial com o Ministério Público no começo de 2014. A pouco mais de um
mês para o fim do ano, a climatização segue em marcha lenta.Com 39,4% da frota refrigerada, o Rio avançou só 4,7% de janeiro até
agora. Isso porque, em 2016, o compromisso era climatizar 3.990 ônibus,
mas foram só 868, até setembro. E, desses, 680 cobriram um déficit de
2015. Ou seja, o avanço real esse ano foi de apenas 188 coletivos.
Certo
de que a meta não seria atingida, o juiz Leonardo Grandmasson, da 8ª
Vara de Fazenda Pública do Tribunal de Justiça, manteve no fim de
outubro a multa de R$ 20 mil, definida em julho, para o município, por
cada veículo não refrigerado. Ele só espera a virada do ano para
calcular o valor total da punição e intimar o município.
— Enquanto não chegar o fim do ano, está no prazo. Sei que (a prefeitura) não vai cumprir — adianta o juiz.
Dados obtidos pelo “Globo” por meio da Lei de Acesso à Informação
mostraram que, em julho, dos 7.847 ônibus das linhas regulares, apenas
3.090 eram refrigerados. A sensação nas ruas é de que o índice é ainda
menor. Durante dois dias o EXTRA foi a ruas em Madureira e Campo Grande.
De 200 ônibus, sendo cem em cada ponto de observação, apenas 75 que
passaram tinham ar-refrigerado, ou 37,5% do total.
— É uma pouca vergonha. Numa cidade quente como o Rio de Janeiro todos os ônibus deveriam ter ar refrigerado — reclama Marcelly.
Linha 686, em Madureira: motoristas sofrem com o calor Desde
o fim de 2015, quando baixou o Decreto 41.190, a Prefeitura do Rio não
fala mais em ônibus e sim, em viagens climatizadas, que deveriam atingir
70% até dezembro de 2016. A Secretaria municipal de Transporte (SMTR)
garante que está perto de atingir o percentual. Em outubro, informa o
órgão, “65% das viagens” já eram feitas em veículos refrigerados. O juiz
Leonardo Grandmasson discorda da mudança de critério.
Linha 774, em Madureira: cobrador seca o suor com toalhinha —
Se o próprio município, num acordo judicial, entendeu voluntariamente,
numa tentativa de oferecer um serviço melhor para a população (pela
refrigeração de toda frota), tem de cumprir. Imagina se amanhã você é
demandado numa ação judicial e fecha o acordo para pagar um montante e,
na hora do vencimento, quer pagar outro valor. Isso não existe —
exemplifica o juiz.
As empresas de ônibus garantem que mantêm o
compromisso de 2014, sem revelar números. Dizem que, de lá para cá, a
frota refrigerada cresceu 265%. “A mudança é feita durante o processo de
renovação da frota municipal e, de acordo com o contrato de concessão, a
vida útil de um ônibus do município é de até 8 anos. Cada veículo novo
com ar tem custo estimado em até R$ 400 mil”, afirmam em nota.
Passageira alivia o calor dentro do coletivo com sorvete Foto: Rafael Moraes / Extra Com
um leque na mão, a usuária do 397 (Campo Grande-Candelária) Daiane
Oliveira, de 18 anos, contou que até hoje só viu um ônibus refrigerado
na linha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário