segunda-feira, 28 de novembro de 2016

RIO DE JANEIRO -Calor intenço

Marcely, passageira do 774, seca o suor



 O suor pinga, e a estudante Marcelly Cristóvão Leão, de 19 anos, não desgruda da toalhinha ao entrar no 774 (Madureira-Jardim América), em Madureira. O mesmo fazem passageiros e até motoristas de outras linhas. A situação seria diferente se a prefeitura tivesse cumprido a promessa de climatizar 100% dos ônibus até o fim de 2016, firmada em acordo judicial com o Ministério Público no começo de 2014. A pouco mais de um mês para o fim do ano, a climatização segue em marcha lenta.Com 39,4% da frota refrigerada, o Rio avançou só 4,7% de janeiro até agora. Isso porque, em 2016, o compromisso era climatizar 3.990 ônibus, mas foram só 868, até setembro. E, desses, 680 cobriram um déficit de 2015. Ou seja, o avanço real esse ano foi de apenas 188 coletivos.
Certo de que a meta não seria atingida, o juiz Leonardo Grandmasson, da 8ª Vara de Fazenda Pública do Tribunal de Justiça, manteve no fim de outubro a multa de R$ 20 mil, definida em julho, para o município, por cada veículo não refrigerado. Ele só espera a virada do ano para calcular o valor total da punição e intimar o município.
— Enquanto não chegar o fim do ano, está no prazo. Sei que (a prefeitura) não vai cumprir — adianta o juiz.
Linha 712: passageira sofre com o calorDados obtidos pelo “Globo” por meio da Lei de Acesso à Informação mostraram que, em julho, dos 7.847 ônibus das linhas regulares, apenas 3.090 eram refrigerados. A sensação nas ruas é de que o índice é ainda menor. Durante dois dias o EXTRA foi a ruas em Madureira e Campo Grande. De 200 ônibus, sendo cem em cada ponto de observação, apenas 75 que passaram tinham ar-refrigerado, ou 37,5% do total.
— É uma pouca vergonha. Numa cidade quente como o Rio de Janeiro todos os ônibus deveriam ter ar refrigerado — reclama Marcelly.


Linha 686, em Madureira: motoristas sofrem com o calor
Linha 686, em Madureira: motoristas sofrem com o calor
Desde o fim de 2015, quando baixou o Decreto 41.190, a Prefeitura do Rio não fala mais em ônibus e sim, em viagens climatizadas, que deveriam atingir 70% até dezembro de 2016. A Secretaria municipal de Transporte (SMTR) garante que está perto de atingir o percentual. Em outubro, informa o órgão, “65% das viagens” já eram feitas em veículos refrigerados. O juiz Leonardo Grandmasson discorda da mudança de critério.


Linha 774, em Madureira: cobrador seca o suor com toalhinha
Linha 774, em Madureira: cobrador seca o suor com toalhinha
— Se o próprio município, num acordo judicial, entendeu voluntariamente, numa tentativa de oferecer um serviço melhor para a população (pela refrigeração de toda frota), tem de cumprir. Imagina se amanhã você é demandado numa ação judicial e fecha o acordo para pagar um montante e, na hora do vencimento, quer pagar outro valor. Isso não existe — exemplifica o juiz.
As empresas de ônibus garantem que mantêm o compromisso de 2014, sem revelar números. Dizem que, de lá para cá, a frota refrigerada cresceu 265%. “A mudança é feita durante o processo de renovação da frota municipal e, de acordo com o contrato de concessão, a vida útil de um ônibus do município é de até 8 anos. Cada veículo novo com ar tem custo estimado em até R$ 400 mil”, afirmam em nota.


Passageira alivia o calor dentro do coletivo com sorvete
Passageira alivia o calor dentro do coletivo com sorvete Foto: Rafael Moraes / Extra
Com um leque na mão, a usuária do 397 (Campo Grande-Candelária) Daiane Oliveira, de 18 anos, contou que até hoje só viu um ônibus refrigerado na linha.


Daiane de Oliveira recorre ao leque para se refrescar no 397


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