"A praia está 'podrida'?" Nos últimos dias, Telma Rocha da Silveira, proprietária de um hostel em Canasvieiras, tem ouvido a pergunta com frequência de turistas argentinos que ligam em busca de informações. Desde o dia 8 de janeiro, nenhum ponto da praia, uma das mais movimentadas de Florianópolis, está próprio para banho. A situação não preocupa somente os turistas, mas também os comerciantes locais.
"Tudo o que a gente quer é resolver o mais rápido possível", diz Telma. Segundo ela, nos últimos dias, pelo menos dez hóspedes tiveram diarreia e vômito, considerando os que procuraram ajuda. "É muito mais do que no ano passado", conta. Apesar da alta taxa de ocupação, Telma diz que há desistências de reservas neste começo no ano, principalmente por causa da balneabilidade.
"Eu fico procurando notícias para ver em que praias eles podem ir. Tem que conferir o tempo todo, mas infelizmente aqui não dá para ficar", disse.
Movimento mais fraco
A sujeira nas águas reflete também no movimento do estabelecimento de Alison. Se as pessoas escolhem ir para outras regiões, também é em outras praias que se alimentam. "O movimento pela manhã ficou bem fraco. À noite, como as pessoas ainda estão hospedadas na região, as mesas ficam mais ocupadas. Geralmente janeiro tem movimento bem maior que dezembro, mas por enquanto isso não está acontecendo", avalia Alison.
Geralmente janeiro tem movimento bem maior que dezembro, mas por enquanto isso não está acontecendo"
Alison Araújo, dono de restaurante
Marco Aurélio Schutt é sócio-proprietário de um receptivo turistico na cidade, que realiza transfers do aeroporto para hotéis, praias e passeios. Ele diz que uma das consequências da falta de balneabilidade na região é a antecipação do retorno das pessoas. "Muita gente abreviou a viagem", diz Schutt.
Além disso, a insatisfação dos turistas ficou clara. "Eu estava acompanhando na última semana uma família de Cuiabá, e nos últimos quatro dias eles simplesmente não foram à praia, ficaram no hotel. Nós alertamos quais regiões estão próprias para banho, mas eles ficam receosos. Um pessoa do grupo chegou a ter a virose", conta Schutt.
Reunião com setor
Na tarde de segunda-feira (11), a prefeitura fez uma reunião com representantes da área do turismo para mostrar as ações planejadas para Canasvieiras. Além do fechamento da ligação do Rio do Brás, eles sugeriram a criação de um calendário anual de ações de limpeza, com prazos para desassoreamento do Rio Papaquara.
O presidente da Federação de Hotéis, Bares e Similares de Santa Catarina (Fhoresc), Estanislau Bresolin, disse nesta terça (12) que os hotéis da região não sentiram o impacto da falta de balneabilidade. "Os turistas que ficaram doentes eram os que chamamos de 'público de festas', que naturalmente já iriam embora neste começo do ano", disse Bresolin.
"E os turistas que chamamos de 'público de férias', que ficam uma ou duas semanas em janeiro por aqui reservaram há muito tempo, já pagaram, e não vão desistir".
urismo sem 'mácula'Bresolin calcula que a taxa de ocupação de hotéis no Norte da Ilha é de 80%, cerca de 10% superior à de 2015. Na região, pelos dados da Fhoresc, são cerca de 30 mil leitos, maior concentração de Florianópolis. "Não imaginamos que vai ficar nenhuma mácula para o turismo", reforçou Bresolin. Ele garante que a ocupação para o Carnaval também está 'muito satisfatória'. Segundo ele, as intoxicações e doenças que têm sido recorrentes na região são 'típicas da época' e são causadas, em grande parte, pelo mau acondicionamento de alimentos e venda de produtos irregulares nas praias.
"A notícia da falta de balneabilidade alarmou muita gente, mas o relatório foi feito logo após as festas de fim de ano, quando acumula lixos nas praias e com o rio desaguando no mar. Temos certeza que o relatório deste final de semana será muito melhor", conta.
Na madrugada desta terça-feira (12) uma operação da prefeitura fechou com areia um ponto em que o Rio do Brás, que está poluído, desemboque no mar.
Tem aqueles que preferem passar o dia em uma praia onde a água está em
condições, então os restaurantes [de Canasvieiras] não terão movimento
no almoço"
Fábio Queiroz, presidente da Abrasel-SC
O presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav-SC) no estado, Eduardo Loch, acredita que a falta de balneabilidade não irá afetar o setor se forem tomadas medidas preventivas agora. "Essa situação que estamos presenciando não tem ainda um impacto em compras futuras", acredita. Ele diz que, em setembro, 70% dos pacotes turisticos para Florianópolis já estavam fechados e 80% para o carnaval já estão garantidos.
Loch é morador do Norte da Ilha e diz que o próprio filho também adquiriu a virose. "Ele foi muito bem atendido em uma UPA em Canasvieiras. Durante o período, ele não chegou a entrar no mar. A falta de fiscalização no setor de alimentação pode ter colaborado. É importante cobrar isso", diz o presidente da Abav.
'Migração' de praia
O presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) em Santa Catarina, Fábio Queiroz, afirma que houve uma "migração" interna dos turistas. "Tem aqueles que preferem passar o dia em uma praia onde a água está em condições, então os restaurantes [de Canasvieiras] não terão movimento no almoço. Em dias nublados, não se sente tanta diferença, mas não houve um esvaziamento na região do Norte da Ilha", diz Queiroz.
Segundo ele, a maior número de restaurantes de Florianópolis está na região afetada. A maioria deles está regular com relação à ligação regular de esgoto. "Não podemos falar por toda a categoria, mas os maiores restaurantes têm o comprometimento de ligação regular. Essa questão de conscientização da população e do empresário de estrutura é muito importante. E também de como cuidar do seu lixo. Jogar um cigarro na rua, um lixo fora do lugar, faz diferença".
Praia de Canasvieiras é uma das mais procuradas por turistas
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